Ética nas relações sociais e ambientais
Professor José Roberto Paludo
Artigo publicado no Jornal O Imagem de São Miguel do Oeste, edição 1.134 em 11 de outubro de 2022
Ética nas relações sociais e ambientais 1
Um dos argumentos importantes para sensibilizar a necessidade de atitudes no sentido de reverter os desequilíbrios ambientais é de que estes atingem a todos, indistintamente, por exemplo, a poluição do ar se espalha pelo planeta e não “respeita” demarcação política de território, tampouco os espaços de bairros nobres ou periferias, portanto, o problema ambiental é irrestrito.
Contudo, alguns são mais afetados que outros, especialmente em virtude das condições socioeconômicas. O último Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU (PNUD, 2019) afirma que as desigualdades de gênero estão entre as formas mais enraizadas de desigualdade.
Quando acumulados os indicadores de gênero e etnicorracial aumenta a intensidade das dificuldades de superação das condições impostas.
Outro aspecto ambientalmente desigual é a incidência das mortes violentas por diferenças raciais: em 2019, os negros representaram 77% das vítimas de homicídios e a chance de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra (Cerqueira, 2021, p. 22).
Em síntese, considera-se que não há como tratar o tema ambiental sem apontar as principais mazelas sociais, que igualmente são consequências de um modelo de desenvolvimento insustentável nas suas diferentes dimensões.
Deve-se compreender que estamos inseridos não apenas num processo de crise ambiental, mas numa crise civilizatória (Morin, 1995), decorrente do estilo de desenvolvimento economicista (materialista, consumista e industrial) que hipertrofiou o desenvolvimento e de uma visão antropocêntrica de relação utilitarista das pessoas sobre o meio ambiente, diante da qual é necessário romper e construir novos estilos de vida baseados nos paradigmas biocêntricos e sociocêntricos, que juntos compõem o ecocentrismo como ideal moral e ético das relações entre os humanos e com a natureza, deixando para traz a dicotomia ultrapassada da modernidade.
Somos desafiados pelo pensamento estratégico, que combina a visão de longo prazo e ações imediatas, dentro de uma ideologia científica e antropolítica: pensamento complexo; atitude ética; ação prática.
Para que haja essa mudança de comportamento ético nas relações entre indivíduos e destes com o todo, é necessário cultivar e exercitar a “alteridade”. Conceito que vem do latim e pressupõe que cada ser humano é interdependente e interage constantemente com o outro, sendo assim, só existe o eu-individual mediante o contato com o outro. É o outro que revela o meu eu. Eu não sou sem o outro, diferente de mim. Ou seja, um comportamento ético baseado na alteridade pressupõe uma horizontalização das relações de poder (Galtung, 1977), sem distinções numa trilha de resistência e superação do estilo economista em direção de um modo de vida ecocentrista, no qual não cabem as distinções e desigualdades de gênero, etnicorraciais, geracionais e assim por diante.