O que mais eu posso fazer por elas

Data da postagem: 27 de maio de 2025

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Falar da nossa própria mãe neste dia é sempre necessário para expressar gratidão, mas, gostaria de partilhar uma reflexão inspirada num momento que vivenciei recentemente e mexeu muito comigo.

Há pouco mais de dois anos participando como voluntário em projetos sociais na periferia de Florianópolis, sem amarras institucionais, de forma espontânea e com desprendimento. Estamos buscando mudar o foco de atuação para propor ações mais efetivas do que apenas o assistencialismo. Isso nos levou a marcar visitas, entrar na casa das pessoas, escutar suas histórias e entender o que os levou para à condição de precariedade.

Duas visitas mexeram comigo, ambas com mães da periferia. Cada uma com condições diferentes mas com algo em comum: filhos com deficiência.

A primeira mãe é viúva, o marido morreu em acidente de trabalho e deixou uma pensão e dois filhos deficientes. O filho autista, que em 2016 tinha 17 anos, foi abordado equivocadamente e assassinado por uma facção, deixando a mãe com a irmã, um pouco mais velha e com deficiência física e mental. Para essa mãe, a vida acabou. Desde então, não tem vontade de viver e só está sobrevivendo para cuidar da filha, que precisa dela em tempo integral, para comer, tomar banho, trocar fralda e se locomover. Mas, alguns dias não tem forças para levantar da cama. Não sai de casa por medo e tem pavor de cruzar a rua onde seu filho foi alvejado. 

A outra mãe está casada, filhos crescidos, netos e sempre trabalhou em casa e no mercado de trabalho, nunca dependeu de ninguém, mas eis que há seis anos nasceu um filho diagnosticado como autista severo, isso há uns quatro anos. Até tentou um emprego no horário noturno, quando o pai poderia cuidar da criança, mas se tornou inviável. O filho precisa da mãe para se comunicar, é a única pessoa que o compreende e precisa estar sempre ao seu lado. Seus olhos (e os meus) se encheram de lágrimas quando ela declarou que já “pensou em acabar com sua vida e levar o filho junto” porque isso não é vida.

Alguém pode julgar, apontar o dedo e dizer que há políticas públicas para ajudar as mães a cuidar de filhos com deficiência, mas, será que quem fala isso precisou acessar algum desses programas? E quando se trata de pessoas humildes e sem apoio, os obstáculos se sobrepõem.

Porém, o foco desta reflexão não é julgar ninguém, mas me questionar: o que mais eu posso fazer para ajudar? 

Posso escutar, dar um pouco de atenção, convidar para participar da comunidade e estender a mão. 

Essa lição reforçou a minha opinião de que as mães são a essência da nossa sociedade, não apenas pela possibilidade de gerar a vida, mas, porque quanto mais precária e frágil a situação, quando não há ninguém pelas pessoas que mais precisam, simbolizadas nesta história pelo filhos com deficiência, lhes resta a mãe. 

Outros estilos de vida são mais solidários, onde idosos, pessoas com deficiência e abandonados são cuidados pela comunidade, mas, no capitalismo, onde é cada um por si, quem não sobrevive por si mesmo tem a mãe.

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